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  • Instituto Linha D'Água

Salvem as barbatanas - Nós só conservamos aquilo que conhecemos

Atualizado: 12 de ago. de 2021

Já passa da hora de sabermos mais sobre tubarões e raias.



Dando continuidade à série de lives “Diálogos na Linha D’Água”, no dia 26 de novembro, foi ao ar o episódio “Salvem as Barbatanas”, onde o Coordenador Executivo do Instituto, Henrique Kefalás, conversou com o pesquisador e divulgador científico Ricardo Garla, e o professor Fábio Motta, sobre os principais desafios para a conservação de tubarões e raias no Brasil.

Antes de mais nada, queremos que você conheça os cativantes convidados dessa live.

Ricardo, biólogo e doutor em Zoologia, coordena o Projeto Tubarões de Fernando de Noronha, é pesquisador colaborador voluntário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e criou o canal Youtubas, no Youtube, para alavancar a disseminação de informações sobre tubarões e vida marinha, aproximando as pessoas desse ambiente de forma bem humorada e positiva.

Fábio, também biólogo e doutor em Zoologia, é professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-UNIFESP), onde coordena o Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar) e integra o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira (PPGBEMC). Participou de diversos projetos de pesquisa aplicada à conservação marinha e gestão pesqueira, incluindo iniciativas de extensão, e atuou no terceiro setor durante quase uma década, coordenando projetos e programas de conservação marinha.

O LDA e seu envolvimento para a conservação de tubarões e raias.

Desde sua criação, o Instituto Linha D’Água tem o Programa de Conservação de Tubarões e Raias com o objetivo de informar a importância dessas espécies na saúde do oceano.

Estes animais, normalmente, ocupam o topo da cadeia alimentar no oceano, ou seja, se alimentam das demais espécies de seu ambiente, e isso é primordial para regular essas populações, mantendo o equilíbrio em todo o ecossistema marinho.

Essa regulação acontece porque os hábitos alimentares dos tubarões impedem que uma determinada espécie cresça demais e comece a competir com o alimento de outras espécies, sendo essencial para a manutenção da diversidade marinha, inclusive para a manutenção das espécies que servem de alimento para populações humanas.

Porém, infelizmente, apesar de seu papel fundamental, os tubarões sofrem tanto no mar, por conta da pesca desenfreada e práticas de mutilação (finning), como na terra, pela imagem negativa construída junto à sociedade.

Assim, contribuindo para ampliar o conhecimento e diminuir o preconceito em relação a esses animais fantásticos e importantíssimos para o equilíbrio debaixo d’água, vamos mergulhar em questões fundamentais sobre este tema.

Como é feita a conservação desses animais.

Apesar da importância ecológica, socioeconômica, cultural e turística de tubarões e raias, este é um grupo estigmatizado, relacionado a uma imagem muito negativa no imaginário da sociedade devido a eventuais incidentes com seres humanos, e também pela exploração cinematográfica deste tema.



Dessa forma, para efetivamente realizar a conservação desse grupo de espécies, um dos primeiros passos é desconstruir essa visão do “tubarão de cinema”, aquele enorme, com uma boca grande e aberta, pronto para devorar o que aparecer pela frente, principalmente humanos.

Existem diversas espécies de tubarões no mundo de diferentes tamanhos, cores, hábitos, e é através da disseminação de informações sobre elas, sensibilizando e conscientizando a sociedade, mostrando a importância desses seres vivos para a saúde e o equilíbrio do oceano que se começa a fazer a conservação.

Além disso, o desenvolvimento de pesquisas sobre essas espécies e a divulgação de seus resultados, o envolvimento em políticas públicas, a escuta e o aprendizado dos conhecimentos tradicionais das comunidades pesqueiras, o diálogo direto com os comerciantes e os consumidores da carne de tubarão, e daqueles que contemplam esses animais em seu ambiente natural, são fundamentais para ampliar o alcance destes conhecimentos, visando o bem-estar de tubarões e raias.

Afinal, a gente só consegue conservar aquilo que conhece.

E conhecer é entender a variedade de hábitos e de espécies.


Comparação de tamanho entre o Tubarão Baleia (crédito: Max Topchij/Getty Imagens) à esquerda, e o Dwart Lantern Shark - menor tubarão do mundo (crédito: topbiologia.com), à direita.

Como já foi dito, o tubarão não é só aquele do filme. Existem diversas espécies. Existem aqueles que cabem na palma da mão, e existem tubarões de 18 metros, como o tubarão-baleia, que são inofensivos aos humanos e se alimentam de pequenos organismos que vivem em suspensão na coluna d'água marinha.

Entretanto, ser predador é o papel do tubarão em seu ambiente. É por isso que ele tem órgãos do sentido muito aguçados, e grande percepção do que acontece à sua volta para conseguir cumprir de forma efetiva seu papel de predador e regulador de seu ecossistema.

Também é relevante lembrar que muitos tubarões, mesmo grandes, podem nem ter dentes, como aqueles que se alimentam de zooplâncton e que, para isso, filtram as águas do mar em busca de seu alimento.

Saiba mais sobre a diversidade de tubarões e raias no Brasil.

No mundo, há cerca de 1170 espécies de animais cartilaginosos, em que 520 são tubarões, e cerca de 650 são tipos de raias.

O Brasil está entre os países com maior diversidade em tubarões e raias. Existem atualmente no país, cerca de 100 espécies de tubarões, e cerca de 80 espécies de raias em ambiente marinho, e mais de 30 espécies de raias em água doce.

Os tubarões podem viver em águas costeiras, em águas oceânicas, em ambientes associados a recifes de corais, e algumas espécies conseguem até entrar em águas continentais, ou águas doce.

Entretanto, ainda se conhece pouco sobre as espécies de animais cartilaginosos vivendo em águas brasileiras. Só nos últimos 20 anos, foram identificadas 30 novas espécies.

Conheça os pesquisadores que se dedicam ao estudo desses animais.

O Instituto Linha D’Água teve a oportunidade e o prazer de apoiar, pelo menos, dois encontros da Sociedade Brasileira para o Estudo dos Elasmobrânquios (SBEEL), um espaço que reúne os pesquisadores de Norte a Sul do país dedicados ao estudo dessas espécies, e que atrai cada vez mais jovens pesquisadores, amparados pelos profissionais mais experientes.

É válido ressaltar que, além de gerar e disseminar conhecimento, a SBEEL tem uma ação muito importante no âmbito do ativismo, atuando na construção de políticas públicas, visando à conservação de tubarões e raias.

Em geral, os pesquisadores trabalham em suas pesquisas científicas e também acabam se envolvendo, de alguma forma, com ações de conservação e sensibilização da sociedade. Esse envolvimento se dá não só através da divulgação dos resultados de pesquisa, mas também no engajamento e interação com os diversos atores da sociedade.

Assim, o que os pesquisadores constatam é que é fundamental manter um contato ativo com comunidades de pescadores, turistas, agentes do poder público e demais setores para mudar a maneira como as pessoas enxergam esses bichos, e também para espalhar conhecimento sobre a importância da pesquisa com estes animais vivos.

Sim. Carne de cação é carne de tubarão.

O Brasil é um dos países que mais consome carne de tubarão no mundo, está entre os 10 que mais capturam tubarões, e está entre os 20 que mais exportam nadadeiras de tubarões, um dos derivados pesqueiros mais caros do mundo.

Portanto, as relações de consumo de nossa sociedade são fundamentais para a conservação de tubarões e raias. As pessoas comem carne de cação e não sabem que estão comendo tubarão. O problema é que não falamos sobre isso, e pouquíssimas pessoas sabem o que estão consumindo.

O peixe que a maioria das pessoas conhece como cação, biologicamente falando, é um tubarão, pois pertence ao grupo dos peixes cartilaginosos, que possuem cartilagens ao invés de tecidos ósseos.

Muitas vezes, quando os pescadores pegam cações, também trazem em suas redes filhotes de outras espécies, como o tubarão martelo que procura águas costeiras para fazer o parto de seus filhotes. Eles acabam sendo pescados e vendidos como cação.

No Brasil, os tubarões são capturados com diferentes formas de pesca, incluindo as mais artesanais. Uma das espécies mais consumidas no país é o tubarão azul, uma espécie oceânica muito abundante em relação a outras, mas que vem sentindo o impacto da pesca industrial, pois há poucas décadas não era destinada ao consumo humano.

As questões na relação entre consumo e fiscalização.

Um dos grandes problemas do país é que não se sabe, com certeza, o que é retirado do nosso mar. Não existe uma estatística pesqueira, em âmbito nacional, desde 2007.

Na maioria das vezes, o consumidor não sabe a origem do “cação” que está comprando, nem qual espécie está levando, porque isso não é especificado, não entra em nenhum tipo de controle, fiscalização ou medição, e também porque as pessoas, em geral, têm pouco conhecimento sobre peixes e outros animais aquáticos.

Outro problema em relação à fiscalização é que, como os tubarões são predadores de topo, ao longo de suas vidas, vão acumulando poluentes, além de mercúrio e outros metais pesados presentes no corpo dos demais animais, e este risco de contaminação para os humanos não é medido de forma alguma pela vigilância sanitária, nem comunicado aos consumidores.

O que fazer então?

Na penúltima avaliação realizada na costa brasileira, cerca de 33% dos tubarões e raias contabilizados corriam risco de extinção. No mundo, esse número fica próximo de 25%. Confira este monitoramento no site do ICMBio. Quem faz a atualização é o CEPSUL - Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul.

Mesmo com esses dados, as informações que temos sobre pesca, consumo e hábitos de raias e tubarões ainda são muito rasas para a definição de ações de real impacto na conservação dessas espécies.

Assim, antes de se falar sobre uma pesca sustentável de tubarões, é necessário abordar diversos outros assuntos e envolver outros públicos de interesse, principalmente porque esses animais apresentam crescimento lento, atingem a fase adulta depois de muito tempo, e em geral produzem poucos filhotes.

Dessa forma, uma das primeiras atitudes a se tomar é unir esforços, comunicar a sociedade sobre a falta de clareza na captura e consumo de tubarões, buscando sensibilizar uma maior parcela da sociedade sobre esse assunto, com o objetivo de atingir a conservação desses animais.

O ideal é que ocorra um esforço coletivo de diálogo, visando levantar essas informações de forma clara para planejar e implementar políticas públicas neste setor e também, finalmente, obter uma gestão pesqueira organizada.

Ou seja, frente a este cenário sem uma gestão pesqueira efetiva, a solução passa pela construção participativa, com a colaboração de todos os grupos envolvidos, incluindo as comunidades pesqueiras. É preciso buscar o automonitoramento e o monitoramento colaborativo, além de outras frentes de trabalho que incluam todos os setores, inclusive os consumidores, dialogando e construindo a melhor solução em conjunto para a conservação de tubarões e raias.

Confira abaixo a live completa em vídeo:



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